Já há algum tempo que queria escrever sobre este tema, porque acho que é uma das preocupações das mães dos alérgicos.
O que fazer quando temos uma criança internada no hospital, onde deixamos de ter controlo sobre tudo, nomeadamente o controlo sobre a alimentação que é fornecida aos doentes.
Já referi noutros artigos que a minha filha foi internada em Fevereiro deste ano com um problema cardíaco grave. Ela passou por 3 hospitais, perdi a conta de quantos profissionais de saúde interagiram connosco durante aquele mês. Confesso que nos primeiros dias, foi como se as alergias tivessem ficado para segundo plano, e deixassem de ser a minha principal preocupação, como acontecia desde o dia que ela foi diagnosticada quando tinha 6 meses.
Mas foi temporário. Lembro-me perfeitamente do momento em que nos disseram que no dia seguinte ela poderia comer. Foi como se tivesse um alarme interior, que começou a tocar bem alto, mal ouvi a palavra “comida”. Mas isto já foi no 4º dia de internamento, e eu já tinha feito muitos avisos antes disso…
Entrada no serviço de urgência
Triagem: apesar de estar no processo da Sara que ela tem alergias alimentares múltiplas, isso nunca está visível quando os enfermeiros abrem a ficha para escrever os sintomas do doente. Devia estar lá, com letras vermelhas bem grandes e a piscar, mas não está. É preciso dizer sempre ao enfermeiro(a) que está na triagem. Reforçar o que foi dito na triagem durante a consulta com o médico de serviço e durante os exames.
Entrada na unidade de cuidados intensivos pediátricos
Conversa com a pediatra que estava de serviço: a Drª leu o que estava no processo e questionou-nos sobre as alergias. Expliquei tudo novamente.
Conversa com o cardiologista: Também perguntou sobre as alergias e pediu à enfermeira para colocar mais uma chamada de atenção para isso na documentação, nomeadamente na folha de medicação.
Transferência para Lisboa e entrada na unidade de cuidados intensivos do HSM
Conversa com pediatra: falámos sobre as alergias, perguntaram qual era o leite que ela tomava, e disseram que depois viria a dietista do hospital falar comigo. Eu levei o leite na viagem, porque já era de prever que não tivessem um leite extensamente hidrolisado específico.
Retomar alimentação
No dia que ela voltou a comer, só tive de pedir a água quente, prato e colher. Era eu que preparava o leite e as papinhas, que também fui eu que comprei para levar para o hospital. A dietista veio falar connosco, chamei a atenção para todos os ingredientes proibidos, e ela tratou de fazer o plano adequado para a Sara. Comia sopa e fruta ao almoço, não chegou a ter apetite para segundo prato.
Transferência para unidade de cardiologia pediátrica do HSC
No dia da chegada também chamaram a dietista e eu voltei a fazer a explicar tudo. Preenchi uma ficha com as restrições alimentares e o almoço vinha sinalizado para ela. Esta unidade possuía uma pequena copa, onde também era eu que preparava o leite e papinhas. Tínhamos sítio para guardar os alimentos que levámos de casa (leite, papas, bolacha, sumos).
Passámos um mês muito difícil, mas sem reações alérgicas. Imaginem um internamento longo, em vários sítios diferentes, com muitas mudanças de turnos, e caras diferentes todos os dias. Se em algum destes momentos houvesse um esquecimento, além de uma taquicardia e insuficiência cardíaca grave, podíamos muito bem ter tido uma reação anafilática para piorar tudo.
Nunca é demais relembrar a existência de alergias alimentares!