Este diário nasce em 2014 com o objetivo de partilhar experiências e os desafios que enfrentamos todos os dias como pais de uma criança com alergias alimentares. Mostrar que as crianças alérgicas podem ter uma vida normal e feliz como todas as outras e sem exclusão social.
A nossa história começa assim….
A Sara nasceu em Abril de 2011. Linda, saudável, fofinha. A gravidez foi normal apesar de ter passado alguns períodos difíceis.
Até aos 6 meses a alimentação foi apenas leite materno. Depois chegou a altura de preparar a entrada no infantário e o meu regresso ao trabalho.
Introduzi a papinha de farinha não láctea com um leite adaptado para a idade dela. Ao 13º dia teve a primeira reação. Vomitou tudo durante a noite e no dia seguinte teve mais um episódio de vómito. Falei com a pediatra e aguardamos para ver como corria o dia seguinte (nota: não havia mais nenhum sintoma). E ao 15º dia de papinha, ela terminou de comer e começou a ficar com urticária na metade esquerda da face, e o olho esquerdo todo vermelho também. Foi a nossa primeira ida ao serviço de urgência. A médica que estava no serviço fez as perguntas todas e disse que era uma reação alérgica a qualquer coisa, e mandou retirar a papinha e o leite. Receitou um anti-alérgico e recomendou uma consulta com a pediatra para relatar o sucedido.
E assim foi. Dias depois fomos à consulta, a pediatra fez o diagnóstico preliminar de alergia à proteína do leite de vaca (APLV) e disse que deveríamos consultar uma imuno-alergologista para fazer exames, confirmar o diagnóstico e preparar o acompanhamento da Sara.
Fomos na mesma semana. Foi uma longa consulta, a médica perguntou tudo e mais alguma coisa, e depois passamos aos testes cutâneos. O teste foi feito para o leite total e cada proteína individualmente. Resultados todos positivos, sem qualquer margem para dúvida. O teste também indicou que a alergia mais elevada é a da caseína.
Seguiu-se um período de adaptação ao novo leite e às papinhas. Apareceram ainda pequenas reações em torno da boca, e lá tivemos de fazer testes com o leite e as papinhas que a Sara já tinha experimentado para descobrir o que estava a fazer reação. A médica passou um outro leite extensamente hidrolisado de caseína que a Sara toma até hoje.
E assim conseguimos uma estabilização e os meses seguintes foram sossegados, fazendo a introdução de outros alimentos com muita cautela, mas tudo correu normalmente.
Aos 12 meses, chegou altura de introduzir o ovo. Foi tudo combinado com a alergologista. Fez-nos um plano com as quantidades e os dias para fazer. Só misturei 1/4 de gema de ovo com o puré de legumes em dois dias diferentes, e ela vomitou tudo cinco minutos depois. Falei com a médica, suspendemos a introdução e marcámos testes. Tudo positivo.
Como a Sara já tinha completado um ano, a médica disse que era uma boa altura para fazer os exames de sangue (Ige). As análises foram feitas para o leite e o ovo. Não estávamos à espera de grandes novidades. As análises só vieram confirmar que as alergias são todas elevadas mas serviram para termos valores de referência iniciais.
Aos 13 meses a Sara teve uma reação grave de anafilaxia que nos levou ao hospital. Tudo indica que comeu uma papinha com vestígios de leite, mas a causa nunca ficou bem clara. Isto levou-nos a mais uma série de testes, que incluiu todos os cereais da papa que ela tinha comido naquele dia. E tivemos mais uma surpresa: positivo para trigo, aveia e soja. Também fizemos evicção destes alimentos, mas felizmente nas análises seguintes já estavam os 3 negativos.
Desde então não descobrimos mais nenhuma alergia, fazemos exames semestralmente para controlo.
Em 2014 passámos por muito. Em Fevereiro foi diagnosticado um problema cardíaco à Sara, estivemos 1 mês longe de casa, passámos por 3 hospitais e em todos eu tinha de falar com dietista/nutricionista sobre a alimentação. Mas depois de 4 meses de recuperação, ela voltou à escola e está bem, apesar de continuar medicada por tempo indeterminado.
Temos muitas histórias para contar, dicas para partilhar. Espero que gostem e que nos acompanhem.